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NEGAR PRA LUCRAR: reportagem do SBT Brasil escancara mortes na Paraíba após negativas de planos de saúde

NEGAR PRA LUCRAR: reportagem do SBT Brasil escancara mortes na Paraíba após negativas de planos de saúde

Com informações do Blog do Márcio Rangel

Uma reportagem exibida no telejornal  SBT Brasil trouxe à tona uma denúncia alarmante: um paciente em João Pessoa, identificado como Carlos, morreu após ter uma cirurgia neurológica de urgência negada por um plano de saúde. Dias depois, sua esposa, que o acompanhava no hospital, também faleceu. A família acusa a operadora de ter retardado de forma deliberada a autorização para o procedimento, o que teria custado a vida de ambos.

A matéria gerou comoção nacional e reacendeu discussões sobre o papel dos médicos consultores ligados aos planos, que seriam responsáveis por reclassificar procedimentos emergenciais como eletivos — um recurso, segundo denúncias, usado para evitar custos mais altos. O caso expôs não apenas um episódio isolado de negligência, mas um suposto esquema sistêmico de restrição de atendimentos médicos com fins econômicos.

O médico por trás das negativas e a blindagem institucional

O principal nome envolvido na denúncia é o médico Valdir Delmiro Neves, que atua como consultor para operadora de saúde UNIMED e ocupa posição no Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB). Ele é acusado de atuar como uma espécie de auditor informal, orientando a negação de cirurgias sob justificativa de que seriam desnecessárias ou passíveis de alternativas mais baratas.

Três sindicâncias foram abertas contra ele no CRM-PB, mas todas acabaram arquivadas. O Conselho Federal de Medicina (CFM), diante da repercussão, determinou a reavaliação das denúncias, mas as investigações não apresentaram avanços públicos até o momento. A falta de transparência no processo e o silêncio dos conselhos alimentam a desconfiança de que há uma blindagem institucional a práticas potencialmente antiéticas.

A mobilização do médico José Ramalho e a CPI em andamento

Diante do silêncio e do corporativismo explicito das entidades médicas, o neurocirurgião José Ramalho Neto decidiu levar a denúncia adiante. Segundo ele, o que está acontecendo não é pontual, mas sim uma prática organizada, repetida em diversos estados brasileiros. Em sua avaliação, pareceres médicos estão sendo usados como ferramentas de controle financeiro pelas operadoras, violando a autonomia médica e comprometendo a saúde dos pacientes.

Ramalho reuniu assinaturas suficientes para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Planos de Saúde na Câmara dos Deputados. Ele também encaminhou documentos ao Ministério Público Federal, que analisa se abre uma investigação oficial para apurar as responsabilidades, incluindo a conduta dos conselhos de medicina diante das denúncias.

A resposta das instituições e da operadora

Até o momento, o médico Valdir Delmiro Neves não se pronunciou. O CFM informou que não comenta casos específicos para evitar pré-julgamentos. O CRM-PB alegou que todos os processos são conduzidos sob sigilo, como determina a legislação. Já o Ministério Público Federal confirmou que está avaliando os documentos recebidos.

A Unimed João Pessoa, operadora citada no caso, declarou que todas as decisões seguem critérios técnicos e regulatórios, reconhecendo que eventos adversos podem ocorrer mesmo quando os protocolos são seguidos. A empresa diz estar comprometida em esclarecer os fatos.

Entre o lucro e a vida

A reportagem do SBT Brasil não apenas expôs uma tragédia pessoal. Ela revelou uma engrenagem silenciosa em que decisões técnicas estariam sendo manipuladas para beneficiar financeiramente operadoras de saúde — muitas vezes à custa da vida de pacientes.

O caso de João Pessoa é um alerta: o modelo de saúde suplementar brasileiro precisa de uma fiscalização real, que vá além de pareceres formais e traga luz sobre os conflitos de interesse que atravessam a relação entre médicos, operadoras e órgãos de regulação. A CPI dos Planos de Saúde pode ser o primeiro passo para romper esse ciclo de impunidade e dar às vítimas não apenas voz, mas justiça.